Rio Doce chama

RIO DOCE AMARGA LAMA ALARGA A ALMA O RIO CHAMA O RISO DOCE DO MAR QUE AMA Hoje, 17 de novembro, é o dia da criatividade. Dia da atividade criadora. Dia de se alargar a alma e dizer não à visão estreita. Dia de não se contentar com pouco conhecimento. Dia de escutar o chamado da liberdade de pensamento e de se abrir ao novo, ao diferente. Dia de comungar com o “mar de conhecimento da vida”. Por muitos anos, disseram que eu era um objeto, um recurso. Disseram que eu não podia ser um sujeito porque não era uma pessoa. Mas, o que é uma pessoa? O ser humano é uma pessoa? Dizem que sim. Quando começa o ser humano? Quando nasce. Dizem alguns. Mas, existe nascimento sem embrião? Embrião sem fecundação? Fecundação sem pais? Pais sem avós? Avós sem bisavós? Atualidade sem ancestralidade? Pode o ser humano dizer que está separado de todos os seus ancestrais? Parece que não. Cada ser humano é o elo de uma corrente de vida. Cada ser humano é um “rio de humanidade” que brota da fonte universal misteriosa. Cada “rio de humanidade” também é um “rio de cultura”. O conhecimento é uma correnteza inesgotável que atravessa as gerações. Ele pertence à humanidade, porque é gerado e transmitido pelas experiências de cada “rio de humanidade”. Os modos de ser e fazer, ou seja, as culturas, são produzidos e sustentados pela convivência. Aprendemos e ensinamos uns aos outros. Cada “rio de humanidade” é um “afluente” deste imenso “mar de conhecimento”. O “mar de conhecimento” não tem princípio ou fim. Todos são aprendizes. As árvores aprendem os caminhos para a água com suas raízes. A água aprende os caminhos para as fontes com as raízes das árvores. As fontes aprendem os caminhos para o mar seguindo os traçados da terra. O mar aprende o caminho para a liberdade infinita com a força do sol. O sol aprende os caminhos de todos os caminhos com o ciclo da água, sempre em infinito movimento para levar a vida a todos os lugares. E os seres humanos? O que aprendem? Os seres humanos aprendem os caminhos do conhecimento com a vida vivida com consciência. Ser consciente: eis o caminho dos seres humanos. Ser consciente que precisa beber água, respirar o ar e comer dos frutos da terra todos os dias. Que não está separado da natureza. Que é a natureza. Que todos os seres, humanos ou não, tem a sua importância na geração e manutenção da vida no planeta Terra. Que o planeta é a nossa Casa Comum, a Grande Mãe geradora e mantenedora de todas as vidas. Que sem água, ar, terra e sol não existe vida. Que sem vida não existe pessoa. Que a pessoa não é uma ilha, mas um “rio de humanidade e cultura” que alimenta o “mar de conhecimento”. Ser consciente, enfim, que a pessoa não é um indivíduo, mas um ecossistema de vidas (bio) e modos de vida (cultura), ou seja, que a pessoa é um sujeito biocultural. Isto é o que eu sou. Sou um sujeito de direito biocultural. Um ecossistema de vidas e modos de vida que leva água para 3,5 milhões de seres humanos de 230 municípios (Minas e Espírito Santo). Sou inseparável dos seres que comigo interagem. Estou unido aos povos ribeirinhos que convivem em harmonia comigo. Desta convivência emerge o conhecimento ancestral que torna possível a nossa existência sadia. Deste convívio respeitoso brota a verdadeira sustentabilidade socioambiental: a humanização do humano. Seres humanos que enxergam a interdependência comigo e me respeitam desenvolvem o respeito por qualquer outro ser, humano ou não. E do respeito brota o amor. Somente o amor pode manter a vida, pois, quem ama cuida. Tem cuidado quem tem consciência da fragilidade da vida. Consciência que faz a pessoa “pisar leve”, sem deixar marcas, sem machucar. Tem cuidado quem respeita a vida e não se sente dono dela. Quem se sente parte da vida. Só é humano quem é “um mano”, ou seja, quem é um irmão. Irmão de todas as criaturas, como cantou São Francisco: “Louvado sejas, meu Senhor, por nossa irmã a mãe Terra que nos sustenta e governa”. Neste dia da criatividade, chamo os meus irmãos e irmãs humanos a alargarem suas almas, para me reconhecerem como um sujeito de direito. Chamo todos e todas a se abrirem a um “belo horizonte”: a visão de que somos filhos da mesma Mãe Terra. Chamo todos e todas a sentirem o aconchego maternal da natureza que gera um “riso doce” em nossa face. Chamo todos e todas a se lembrarem que também são “rios de humanidade e cultura” a caminho do “mar de conhecimento”, sem começo ou final. O eterno ciclo da água a sempre nos lembrar: SOMOS RIOS EM BUSCA DO MAR. RIO DOCE por meio do seu advogado Lafayette Garcia Novaes Sobrinho Mestre em Direito Agroambiental